Debaixo do Barro do Chão

O grupo foi criado em 1991 por alunos do curso de Educação Física, tendo como ponto forte, não somente a dança, mas a interação com a comunidade. Trata-se de uma troca de experiências entre o meio acadêmico e a produção cultural do mundo exterior a ele, sobretudo o das manifestações populares.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A quadrilha junina


A quadrilha junina, matuta ou caipira é uma dança típica das festas juninas, dançada, principalmente, na região Nordeste do Brasil. É originária de velhas danças populares de áreas rurais da França (Normandia) e da Inglaterra. Foi introduzida no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, possivelmente em 1820, por membros da elite imperial. Durante o Império, a quadrilha era a dança preferida para abrir os bailes da Corte. Depois popularizou-se saindo dos salões palacianos para as ruas e clubes populares, com o povo assimilando a sua coreografia aristocrática e dando-lhe novas características e nomes regionais.

No sertão do Nordeste encontrou um colorido especial, associando-se à música, aos fogos de artifícios e à comida da Região. Como as coreografias eram indicadas em francês, o povo repetindo certas palavras ou frases levou também à folclorização das marcações aportuguesadas do francês, o que deu origem ao matutês, mistura do linguajar matuto com o francês, que caracteriza a maioria dos passos da quadrilha junina.

Anavantur (em avant tout), Anarriê (em derrière), Balancê (balancer), Travessê de cavalheiros, de damas e geral (travesser), Otrefoá (autrefois), Changê de damas e cavalheiros, preparar para o granchê, Retournê,Retire e C’est fini são alguns exemplos das palavras derivadas do francês.

Os passos e a movimentação dos pares da quadrilha são guiados por um marcador que anuncia os passos, podendo ou não fazer parte da dança. É escolhido entre os mais experientes membros do grupo ou é uma pessoa convidada para esse fim. Rapazes e moças em fila indiana vestidos com roupas típicas do matuto do interior, em pares alternados, braços para baixo, colocam-se frente a frente (vis a vis) aguardam a música da orquestra, que é normalmente composta por zabumba ou bombo, sanfona e triângulo e que o marcador comece a gritar a quadrilha.

Fonte: Gaspar, Lúcia. Quadrilha Junina. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br. Acesso em: 03 Jun 2010. (Ver texto completo)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dança das Bandeirinhas

As danças da Capelinha-de-Melão e das Bandeirinhas pertencem ao ciclo junino. A primeira se assemelha a Lapinha na disposição das pastoras em cordões e no elenco das jornadas. Enquanto na Lapinha se homenageia o Messias, o Salvador, na Capelinha, o alvo das salvações e louvações é São João Batista, o Precursor.

A Dança das Bandeirinhas só existe na cidade de Touros. Dança sincrética, na qual o profano e o religioso coexistem. Nos números coreográficos apresentados – louvações ao Senhor São João, cantadas ao lado de animados números do mais autentico forró, dançado aos pares – a dança das Bandeirinhas é dançada apenas por mulheres, participando senhoras e mocinhas. A primeira fase ocorre em um recinto fechado, diante da bandeira de São João Batista. Após as danças, o grupo, em cortejo, desfila pelas ruas da cidade.

Com a bandeira em punho, atravessa a cidade e após o tradicional banho e ao som de estrofes alusivas ao ato, retorna à casa de onde saíra para o encerramento.

Presentes no Brasil nas procissões e festas religiosas desde o século XVI, as bandeiras e estandartes valorizam as imagens dos santos [...]. A sua mobilidade torna as bandeiras de santo muito freqüente nas procissões. Assim, seu uso e porte são objetos de uma vigilância atenta, e indicam geralmente a posição social hierarquicamente superior daquele que as empunham.

No litoral da Paraíba e em alguns municípios do Rio Grande do Norte (em Touros) há relatos de que essas bandeiras estejam presentes até os dias atuais. Nessa última cidade ela aparece com o nome de ‘bandeirinha de São João’, como um estandarte de tecido no qual é bordada uma representação do santo batista, e guia uma procissão de fiéis para um banho coletivo noturno – reservado às mulheres – na noite de 23 de junho.

José Armando Da Silveira. FOLCLORE POTIGUAR: UMA PROPOSTA DE TRABALHO PARA EJA NO MUNICÍPIO DE LAGOA DE PEDRAS-RN (ver texto completo)

Luciana Chianca. Devoção e diversão: Expressões contemporâneas de festas e santos católicos. Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 11, vol. 18(2), 2007. (Ver texto completo)

Um pouco da história do grupo


O grupo de dança Parafolclórico da UFRN foi criado em 1991 por alunos do curso de Educação Física. Sua coordenadora desde então, Rita Luzia, conta que a idéia surgiu durante as aulas de folclore assistida pelos futuros dançarinos e por causa do desejo de apresentar a um público uma parte da cultura norte-riograndense, representada através das danças populares. "Os alunos ficaram tão envolvidos com a disciplina que sentiram a necessidade de criar o grupo", explica Rita Luzia.

"Nós fazemos releituras das danças folclóricas", enfatiza coordenadora. Podem participar do grupo alunos, professores e funcionários da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e qualquer membro da comunidade. Lá também se aprende a dançar. "Os alunos passam por todas as funções e são criadores. Eles dançam, coordenam, coreografam e dirigem os espetáculos. Sendo que cada um exerce pelo menos uma vez cada atividade", explica.

O ponto forte do Parafolclórico, entretanto, não é a dança, mas a interação com a comunidade. Trata-se de uma troca de experiências entre o meio acadêmico e a produção cultural do mundo exterior a ele, sobretudo o das manifestações populares. O enlace é tão forte que a procura para participação no grupo é enorme.

Isso acontece porque os espetáculos não são construídos aleatoreamente. Todas as danças levadas ao palco pelo Parafolclórico passam por um intenso processo de pesquisa que abrange viagens pelo interior do Rio Grande do Norte, da Paraíba e outros. Apesar disso, a dança apresentada não é a cópia fiel do que os dançarinos, coreógrafos e diretores vêem nas comunidades, e sim uma releitura disso. "Nós entramos em contato com o bumba meu boi, pastoril e outras danças e os alunos e pesquisadores elaboram algo novo", afirma Rita Luzia.
Vale ressaltar que os componentes não são apenas artistas.

Fazem parte do grupo de dança também pesquisadores e historiadores, que atuam no processo de elaboração dos espetáculos. Há uma leitura histórica e científica das manifestações norte-riograndenses de cultura popular. Rita exemplifica contando que para montar a coreografia de "Dança das Bandeirinhas", uma das partes de "Debaixo do Barro do Chão", todos os membros do grupo visitaram Touros, Currais Novos e Campina Grande, na Paraíba. "Fomos também ver o São João de Mossoró. Foram dois anos de estudo ao todo para esse espetáculo estudando e colhendo material. Os alunos participavam trazendo cartazes, fitas e outros materiais".

Segundo a coordenadora, a escolha do tema vem da vontade de valorizar o que é nordestino. "Ressaltamos a importância dele para nossa cultura e fazemos referência ao Brasil", garante.

Matéria do Correio da tarde. Edição Número 1.313 - Ano IV - Natal e Mossoró, Terça-feira, 01 de Junho de 2010. Por Ramilla Souza . Disponível em http://www.correiodatarde.com.br/editorias/tudo-34122

Foto de apresentação da coreografia Maculelê na Reitoria da UFRN